11/13/2016

«PASOLINI: O VAZIO DO PODER» : DAVI PESSOA





«PASOLINI: O VAZIO DO PODER» DAVI PESSOA
Data: 18 de novembro | 19h
Local: IPHAN: Av. Gov. José Malcher, 563 – Nazaré | Belém



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«PASOLINI: O VAZIO DO PODER»
Pier Paolo Pasolini, ainda muito jovem, com 7 anos de idade, se declara um “poeta acadêmico, ao modo de Petrarca”; alguns anos depois, diz que sofreu alguns traumas, por exemplo, depois das leituras de Rimbaud, Shakespeare, Dostoievski, Gramsci, Ungaretti e Paul Valéry. Após tal experiência diz que pela primeira vez em sua vida viu-se como antifascista. Nesse período de sua formação, lê uma passagem de Valéry citada por Jakobson, que irá ecoar em seu pensamento por toda a vida: “A poesia é uma hesitação prolongada entre o som e o sentido”, e a partir dessa proposição surge uma angústia compartilhada por ele durante uma entrevista a Giuseppe Cardillo, em 1969, em NY, a saber: os poetas simbolistas fundavam sua poética em dois pontos, a) a poesia é o conteúdo da própria poesia; b) a poesia tem uma língua que lhe é específica, uma língua que não é decorativa, nem referencial. Daí, surge-lhe um impasse: como romper com tal cisão entre o político e o estético? Sua experiência em Friuli irá lhe proporcionar um trauma social, como ele mesmo declara, visto que ali começa a entrar em contato com os camponeses que começavam a se manifestar contra o sistema de produção ainda feudal ao qual estavam submetidos, e ali Pasolini diz que já estava lendo Marx antes mesmo de sua primeira leitura efetiva de um texto de Marx, e ali percebe que o dialeto friulano presente em seus poemas não era um fato puramente realista, não era nem totalmente som, nem totalmente sentido, era um hiato entre os dois pólos, um terceiro elemento, que punha o estético e o político em confronto. Tal percepção irá se fazer presente em todos seus esboços de obra (lembremo-nos de suas aulas com Roberto Longhi), em suas anotações para seus filmes (África, Palestina, Índia, etc.), sempre como “retratações” (ao modo de Agostinho, “tratando de novo” – La Divina Mimesis, Decameron), com o intuito de sabotar o eterno retorno do mesmo, da mesmo “situação”, como dirá em sua última entrevista a Furio Colombo. Em última análise, podemos compreender o desaparecimento dos vaga-lumes não como um fim de experiência (do Mundo, mas de um mundo), mas, antes, como uma abertura de espaço (caráter destrutivo, Benjamin), de possibilidade de fazer sabotar a máquina de guerra, pois naquele momento Pasolini já percebia (e é esta uma das forças que tanto interessa ao filósofo Giorgio Agamben, ao ler a obra de Pasolini, que se situa sempre em um “antes” e um “depois”), no vazio do Poder da Itália, de modo muito sagaz (como uma espécie de Sócrates, ao pronunciar sua parresía, sempre necessária para que a democracia continue a existir), a antecipação da separação entre economia e política, em favor da primeira, tal como vemos em nossos tempos. Assim, nosso desafio, hoje, é dar novamente potência ao poético, ao político, ao gesto do corpo, para que possamos diminuir o abismo existente entre “populus” e “plebs”, no qual este último é sempre alvo de eliminação, ou ainda, como nos diz Agamben, em “O que é um povo?”: “Somente uma política que tiver sabido prestar contas da cisão biopolítica fundamental do Ocidente poderá deter essa oscilação e colocar um fim na guerra civil que divide os povos e as cidades da terra.”

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DAVI PESSOA 

Informações (biografia) 


Davi Pessoa é professor adjunto de literatura italiana na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). É doutor em Teoria Literária pela UFSC (com pesquisa em La Sapienza/Roma), com projeto sobre a questão da escritura em Elsa Morante e em Macedonio Fernández. É autor de «Terceira Margem: Testemunha, Tradução» (Editora da Casa, 2008). Atua também como tradutor de literatura e filosofia italiana. Traduziu «A razão dos outros» e «Ou de um ou de nenhum» (Lumme Editor, 2009), de Luigi Pirandello, «Georges Bataille: filósofo» (Edufsc, 2010), de Franco Rella e Susanna Mati, «Desgostos» (Edufsc, 2010) e «Ligação Direta» (Edufsc, 2011), ambos de Mario Perniola, «A sinagoga dos iconoclastas», de Juan R. Wilcock (Rocco, 2016), e os livros «Nudez», «O tempo que resta» e «Meios sem fim» do filósofo italiano Giorgio Agamben (Autêntica, 2014, 2015, 2016), do qual sairá em breve a tradução do livro «Pulcinella ou Divertimento para os jovens em quatro cenas». No momento, está traduzindo o livro «Petróleo», de Pier Paolo Pasolini, para a Editora 34.





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