7/25/2012

Ideia do Silêncio | Giorgio Agamben



[Foto: Giorgio Agamben no filme “Evangelho Segundo São Mateus” de Pier Paolo Pasolini ]


Numa recolha de fábulas dos fins da Antiguidade lê-se este apólogo:" Os Atenienses tinham por hábito chicotear a rigor todo o candidato a filósofo, e , se ele suportasse pacientemente a flagelação, poderia então ser considerado filósofo. Um dia, um dos que se tinham submetido a esta prova exclamou, depois de ter suportado os golpes em silêncio:
« Agora já sou digno de ser considerado filósofo! » Mas responderam-lhe, e com razão:«Tê-lo-ias sido, se tivesses ficado calado» . "

A fábula ensina-nos que a filosofia tem certamente a ver com a experiência do silêncio, mas que o assumir dessa experiência não constitui de modo nenhum a identidade da filosofia. Esta está exposta no silêncio, absolutamente sem identidade, suporta o sem-nome sem encontrar nisto um nome para si própria. O silêncio não é a sua palavra secreta- pelo contrário, a sua palavra cala perfeitamente o próprio silêncio.

Giorgio Agamben | Ideia da Prosa (Trad. João Barrento) Cotovia, 1999




Um comentário:

  1. o silêncio é um cálice cheio de silêncio - nas palavras do Marcílio no nosso último encontro na tua casa...

    ResponderExcluir