Robert Stock |
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Tradução:
Mário Faustino
A MERETRIZ IMAGINÁRIA
ou, REFLEXÕES EM TORNO DA POSIÇÃO
ONTOLÓGICA DOS UNIVERSAIS
Então é isto comum a todos? Tomá-la,
essências, fitas, laços,
para juntos subir a escada louca tão de
mansa gasta
que tiramos os sapatos, para exilá-los
com Deus!
Seus braços curvos como balaústres
agarrados para impedir a queda
através dos mutáveis sinais do tempo – e
o beijo dela
arrancando-me, mãos vermelhas, de seus
braços invulneráveis.
Beijos perdidos em florestas natais
enquanto suas coxas selvagens
são lavadas pelo eclipse da lua – oh,
Sônia, Sônia,
é comum isto, a todos? Encontrar-te,
luminosa e corroída
como janelas se abrindo para a vitória
bárbara da aurora,
e contigo lutar corpo a corpo, supremo
num cemitério, entre ossos secos, despir
tua paixão.
Tamanha fome é contemplada friamente
pelos anjos de pedra.
Pois esta ordem, simetria, a brilhante
quadrilha, estará tudo em guerra?
E jamais uma nódoa de sangue para turbar
essa mudez glacial?
*
TRANSFIGURAÇÃO
Eu, um dia envergonhado
de minha própria voz se arrebentando
contra a punhal de sua corda única;
envergonhado de minha boca, retorcido
peixe-estrela encalhado na maré;
deste corpo grotesco envergonhado,
deste corpo gauche, despido de
esperança,
nos próprios ossos crucificado;
com vergonha do cabelo de espinheiro
e dos joelhos de canivete –
Eu, mirabili dictu, eu
até eu transfigurado
este todo que sou
(por obra da mulher indiferente
conspurcado como qualquer estrela-cão
atirada nos pântanos)
transfigurado na maravilha da ressaca
pelo menor, mais vagabundo olhar ou
gesto.
*
ALBA
Lua
nácar de Endimião
olha! Por que vem tão cedo
a aurora?
Fêmea de cera
Oh tu que na ressaca de nossas atrações
és pérola boiando,
evita, dispensa a aurora.
Que farás se a teia maligna do sonho
falhar em te apanhar inteira?
Jamais terás de novo outro suborno
de escuridão tão grande quanto este
por onde tombas, esta noite.
Poemas extraidos do blogger : Hospício Moinhos dosVentos
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