1/10/2012

Derivações de Resenha Sobre o Romance Chove nos Campos de Cahoeira


* Nota escrita após a leitura da Resenha sobre  'Chove nos Campos de Cachoeira', de Dalcídio Jurandir – Por Roberto S. Kahlmeyer-Mertens



Derivações:


A imagem que vem dos campos queimados
   
Por Nilson Oliveira




CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA é um acontecimento que permanece, atraindo cada vez mais para o seu centro, indiferente às erosões do tempo, deflagrando sua própria duração, como se fosse (e talvez o seja) engendrado por uma força extemporânea.
   
É um romance peculiar, cujos personagens são constituídos por uma força diferencial, impregnados de uma “saúde” calcada numa singularidade fértil: rostidade (beatitude segundo Deleuze). Parecem Devir de uma matéria que não cede: uma força em relação permanente com outras forças, da natureza ou do inominável. Personagens-incômodos, transitivos ou prostrados, atravessados por uma sensibilidade na qual a vida pulsa numa possibilidade múltipla (fragilidade/pulsações/acasos/morte). Personagens que, pela página branca do romance, passam causando uma sensação de desassossego.

São personagens tecidos por um intensivo processo de criação/ a verve Dalcidiana / no qual a escrita não cessa de se reinventar, ora na imagem do garoto feridento; ora na silhueta da puta desolada; do doente; da mãe culpada; da velha encrenqueira; da mulher que ri; ou do silêncio daquele que vai morrer.
  
TODOS, mesmos os mais breves, foram traçados de maneira muito expressiva – no sentido das figuras de Oswaldo Goeldi – martelados por uma escrita que arfa, no limite de uma expressão! CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA é também, como todo grande romance, uma proliferação imagética, mas não no sentido de um plano sequencial, pois as imagens de CHOVE se erigem de forma diferenciada: são imagens nubladas; telúricas; aterradoras; cinzentas, singelas; imagens que, pelo seu vigor polissêmico, inventam uma paisagem própria, imagem-arquipélago: o Marajó, um mundo no qual a vida ferve na sua dimensão (estética e micropolítica) mais intensa.

 
Trata-se de um romance que cheira, que tem cor, no qual a bios (βιος) dilata. É impossível sair do Romance sem encontrar a Doença, o Riso, o Sexo, A Morte, o Cômico, ou seja: Eutanázio, Irene, D. Amália, Felícia, Major Alberto, D. Gemi, entre outros. Por tanto, é impossível entrar em CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA e não ter uma experiência de leitura, de encontros.

Nilson Oliveira é editor da revista Polichinello



  

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