Alguns fragmentos da
E S C R I T A - D O - D E S A S T R E
Maurice Blanchot
¨ A angústia de ler: é que todo texto, por tão importante, tão agradável e tão interessante que seja (e quanto mais ele dá a impressão de sê-lo), é vazio – não existe no fundo; é preciso transpor um abismo, e se não se salta, não se compreende.
¨ O «misticismo» de Wittgenstein, no fora de sua confiança na unidade, viria do fato de que ele crê que se pode mostrar lá onde não se poderia falar. Mas, sem linguagem, nada se mostra. E calar-se é ainda falar. O silêncio é impossível. Eis porque nós o desejamos. Escritura (ou Dizer) precedendo todo fenômeno, toda manifestação ou monstração: todo aparecer.
¨ Não escrever – que longo caminho antes de chegar a tal ponto, e isso não é jamais seguro, não é nem uma recompensa nem um castigo, é preciso somente escrever na incerteza e na necessidade. Não escrever, efeito de escritura; como uma marca da passividade, um recurso da desgraça. Quantos esforços para não escrever, para que, escrevendo, eu não escreva, apesar de tudo - e finalmente eu cesse de escrever, no momento último da concessão; não no desespero, mas como o inesperado: o favor do desastre. O desejo não satisfeito e sem satisfação e, entretanto, sem negativo. Nada de negativo em «não escrever», a intensidade sem maestria, sem soberania, a obsessão do totalmente passivo.
¨ Desfalecer sem falta: marca da passividade.
¨ Querer escrever, que absurdo: escrever é a decadência do querer, como a perda do poder, a queda da cadência, o desastre ainda.
¨ Não escrever: a negligência, a incúria não são suficientes para isso; a intensidade de um desejo fora da soberania talvez - uma relação de submersão com o fora. A passividade que permite se manter na familiaridade do desastre.
Ele põe toda sua energia para não escrever, para que, escrevendo, escreva por desfalecimento, na intensidade do desfalecimento.
¨ O não-manifesto da angústia. Angustiado, tu não o serias.
¨ O desastre é aquilo que não se pode acolher, exceto como a iminência que gratifica, a espera do não-poder.
¨ Que as palavras cessem de ser armas, meios de ação, possibilidades de salvação. Reportar-se ao desconcerto.
Quando escrever, não escrever, é sem importância, então a escritura muda – que ela tenha lugar ou não, é a escritura do desastre.
¨ Não confiemos no fracasso: seria ter a nostalgia do êxito.
"Ele põe toda sua energia para não escrever, para que, escrevendo, escreva por desfalecimento, na intensidade do desfalecimento."
ResponderExcluirMaurice Blanchot é sem definição!!!!!! beijos
Existe alguma tradução disponível em português?
ResponderExcluir