Da esquerda para direita: 1. Filho do Filosofo Charles Blondel - 2. Maurice Blanchot. - 3. Madeleine Guéry. 4. Suzanne Poirier - 5. Emmanuel Lévinas |
MAURICE BLANCHOT
MARCOS CRONOLÓGICOS
MARCOS CRONOLÓGICOS
Por Christophe Bident
Tradução: Eclair Antonio
Almeida Filho
1907. Maurice Blanchot nasce em Quain, lugarejo de Devrouze (Saône-et-Loire), em 22 de setembro, na casa herdada da família da mãe, uma família católica de
proprietários de terras abastados. Ele tem dois irmãos e uma irmã. Mudanças frequentes
de domicílio: o pai é professor, preceptor particular, e aluga seus serviços de
Paris a Elbeuf, de la Sarthe a Chalon.
1923. Faz o Baccalauréat. Uma intervenção cirúrgica no duodeno, que ele julgará inútil,
adia em um ano a partida de Blanchot para a universidade. Ele gozará durante toda
sua vida de uma « irresistível pequena saúde », como formula Deleuze a propósito
de inúmeros artistas ou escritores.
Por volta de 1925. Estudante de filosofia e de alemão, ele conhece Emmanuel Lévinas na Universidade
de Estrasburgo. Leituras comuns: a fenomenologia alemã, Proust e Valéry. « A
amizade entre Maurice Blanchot e Emmanuel Lévinas foi uma graça; ela permanece
como uma benção desse tempo » (Jacques Derrida).
Blanchot defende na Sorbonne uma monografia sobre os céticos.
1930. Ele começa estudos de medicina em Sainte-Anne. Mas é o jornalismo que o atrai,
bem mais que a Universidade. Publica um primeiro artigo sobre Mauriac. Colabora
em jornais e revistas de extrema-direita, principalmente em torno dos jovens
dissidentes da Ação Francesa guiados por Thierry Maulnier. Começa um romance do
qual ele destruirá provavelmente vários estágios.
1933. Anticapitalismo, antiparlamentarismo, anticomunismo são as palavras de ordem
permanentes, a serviço de uma revolução do espírito. Antigermanismo e
antihitlerismo: Blanchot pertence também a um meio de judeus nacionalistas prontos
para denunciar as exacções nazistas. Em Le Rempart, cotidiano dirigido por seu amigo Paul Lévy, ele se insurge contra as primeiras
levas de judeus a campos de trabalho.
1936. Morte do pai. Ano de radicalização. Participação no mensal Combat, dirigido por Jean de Fabrègues e Thierry Maulnier.
1937.Virulenta crônica política em L'Insurgé, acompanhada de sua primeira crônica literária. Mas ele põe fim a essa dupla
colaboração ao longo do ano. Não assinará mais nenhum texto político à extrema-direita.
Morte de Claude Séverac, próxima colaboradora em Aux Écoutes, jornal dirigido por Paul Lévy. É também provavelmente o ano em que ele
conhece Jean Paulhan.
1940. Ele segue o governo na « Queda », em Bordeaux, depois em Vichy,
para o Journal des débats. Renuncia, então, a suas funções de
editorialista. Na Jeune France, associação cultural financiada pelo Estado, ele
dirige a secretaria de estudos « Littérature »: com alguns, ele pretende « se
servir de Vichy contra Vichy ». Em dezembro, ele conhece Georges Bataille, que
descreverá mais tarde em uma nota autobiográfica a natureza dos laços imediatos
que foram os deles: « a admiração e o acordo ».
1941. Começa uma série de 171 crônicas literárias no Journal des débats. No outono, primeiro livro: ' Thomas l'obscur, romance. Ele hospede e põe ao
abrigo a esposa e a filha de Emmanuel Lévinas.
1943. A pedido de Dionys Mascolo, Faux Pas retoma 54 crônicas literárias do Journal des débats.
1944. Posto contra o muro de sua casa natal, Blanchot é salvo no momento preciso
por uma diversão de camaradas resistentes. O milagre pelo qual ele escapa ao
pelotão de fuzilamento lhe deixa o sentimento da sobrevivência (« o instante de
minha morte de agora em diante sempre em instância », escreverá cinquenta anos
depois, em L'Instant de ma mort).
1946. Publica em L'Arche, Critique, Les Temps modernes, participa de diversos júris literários e começa a se impor como o crítico mais
importante do pós-guerra.
Início de seu relacionamento com Denise Rollin.
Deixa Paris para se instalar sozinho
no Mediterrâneo, em Èze-village, mesmo que não deixe de passar frequentes
temporadas na capital.
1946/1958. Os artigos mudam de forma: mais longos, mais densos, testemunham uma autoridade nova e uma pesquisa concertada. Em
1953, ele enceta uma colaboração mensal na Nouvelle Nouvelle Revue Française. Blanchot cria seu espaço literário:
Interminável, o incessante, o neutro, o fora, a solidão essencial. O espaço literário, o livro, aparece em 1955. Esses anos
são também aqueles dos relatos, escritos em Èze, no « pequeno quarto » evocado
no começo de um texto dedicado mais tarde a des Forêts, Anacrusa. Redige uma
segunda versão de Thomas l'obscur, muito mais abreviada. Publica L'Arrêt de mort, Au moment voulu, Celui qui ne m'accompagnait pas, Le Dernier Homme. Morte da mãe em 1957.
1958. Blanchot retorna a Paris. A
Dionys Mascolo que, contra o « golpe de Estado » do general de Gaulle, acaba de
fundar uma revista em 14 julho, Blanchot escreve: « Eu gostaria de te
expressar meu acordo. Não aceito nem o passado nem o presente ». Publica « Le refus
» [A recusa] no segundo número da
revista. Torna-se próximo de Robert e Monique Antelme, Marguerite Duras,
Louis-René des Forêts, Maurice Nadeau, Elio e Ginetta Vittorini.
1960. Manifesto dos 121: com Mascolo
e Schuster, ele é o seu principal redator. Projeto da Revista internacional: com Mascolo e Vittorini, ele é seu principal iniciador. Antelme, Butor,
des Forêts, Duras, Leiris, Nadeau, Calvino, Pasolini, Bachmann, Enzensberger,
Grass, Johnson, Walser... participam das reuniõe. Outros, como Char e Genêt,
propõem textos. O projeto fracassa ao cabo de quatro anos de esforços e deixa Blanchot
desesperado.
1962. Publicação de L'Attente l'oubli, primeiro livro fragmentário.
Morte de Georges Bataille. Blanchot escreve um texto em homenagem ao amigo desaparecido:
« L'amitié ».
1964. Blanchot escreve uma primeira carta
a Jacques Derrida: início de uma correspondência seguida.
1966. A primeira homenagem notória é
prestada pela revista Critique, que dedica a Blanchot um número
especial. Textos de Char, Collin, de Man, Foucault, Laporte, Lévinas, Pfeiffer,
Poulet, Starobinski. « La
pensée du dehors » [O pensamento do fora], o artigo de Foucault, é
retumbante. Morte de Elio Vittorini.
1968. Blanchot manifesta, inventa panfletos,
preside sessões do Comitê de estudantes e escritores. Escreve sob anonimado mais
da metade do primeiro e único número da revista Comité.
1970. Inúmeros e graves problemas de
saúde.
1972.Escreve um texto em homenagem
a Paul Celan, que será retomado em livro: Le Dernier à parler.
1973.Le Pas au-delà, segundo livro de fragmentos.
1978. Em janeiro, um depois do outro,
desaparecem seu irmão René e Denise Rollin.
1980. L'Écriture du désastre, terceiro livro de fragmentos.
1983. La Communauté inavouable [A comunidade inconfessável] responde à « La Communauté
désœuvrée » [Comunidade desobrada], artigo de Jean-Luc Nancy que se tornará
também um livro. A escrita se rarifica. Opúsculos, reedições, prefácios, homenagens,
respostas a questionários ou a enquetes, cartas públicas, intervenções políticas.
1990. Morte de Robert Antelme.
1995. Morte de Emmanuel Lévinas;
depois, em 1996, de Marguerite Duras; em 1997, de Dionys Mascolo e d'Anna Wolf,
viúva de seu irmão René, com quem ele vivia desde a morte deste.
2003. Maurice Blanchot morre em 20
fevereiro. Quatro dias depois, na ocasião das exéquias, Jacques Derrida
pronuncia um texto em homenagem à « testemunha de sempre ».
Magazine Littéraire | Nº 424 - outubro de 2003
COLÓQUIO BLANCHOT: LITERATURA, AMIZADE: UMA VIDA
(Dez
anos da Morte de Maurice Blanchot)
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