Só existe uma solidão. É grande e difícil de suportar. E quase todos nós
conhecemos horas em que de bom grado a cederíamos a troco de qualquer
convivência, por muito trivial e mesquinha que fosse; até pela simples ilusão
de uma pequena coincidência com qualquer outro ser, mesmo com o primeiro que
aparecesse, ainda que assim resultasse talvez menos digno. Mas acaso sejam
estas, precisamente, as horas em que a solidão cresce – pois o seu
desenvolvimento é doloroso como o crescimento das crianças e triste como o
início da Primavera – ela, sem embargo, não deve desconcertá-lo, pois o único
que, por certo, nos faz falta é isto: Solidão, grande e íntima solidão.
Mergulhar em si mesmo e, durante horas e horas, não encontrar ninguém…Isto é o
que importa conseguir. Estarmos sós, como estivemos sós quando éramos crianças,
enquanto á nossa volta andavam os adultos de um lado para o outro,
enredados em coisas que pareciam importantes e grandes, só porque eles se
mostravam muito atarefados, e porque nós não entendíamos nada dos seus
afazeres.
[ R.M. Rilke | sexta carta: de 23 de dezembro de 1903 ]
[ R.M. Rilke | sexta carta: de 23 de dezembro de 1903 ]
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