1/27/2017

Resposta ao Ministro Luís Roberto Barroso







CARTA ABERTA EM RESPOSTA AO MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO

por Davi Pessoa

RJ | 26 de janeiro de 2017

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A UERJ não se tornará Torre de Marfim

Hannah Arendt destaca no ensaio "A crise na educação" o quanto é tentador considerar a crise na educação como um fenômeno local e sem conexão com as questões principais do século XX. No entanto, como sabemos, a crise na educação é um problema político, ou melhor, é a forma de política mercantilista-tecnicista que se estende por muitos países do mundo que deflagra a crise na educação. Arendt diz, num determinado momento, que "há sempre a tentação de crer que estamos tratando de problemas específicos confinados a fronteiras históricas e nacionais, importantes somente para os imediatamente afetados". Crença tão falsa quanto necessária para os que se alimentam com seus mecanismos fraudulentos produtores de crises educacionais. No Brasil, por exemplo: desvio de recursos de merenda escolar; livros comprados super faturados e jogados em aterros; escolas construídas que se tornam ruínas, e por aí vai.

E como nossa crise vem sempre a reboque de outros modelos que se propuseram ideais e que entraram em crise há pelo menos mais de uma década, certos propagandistas desse sistema nefasto defendem certas políticas para a salvação da educação como se fossem novidades benéficas, visto que o Estado, que deveria oferecer educação pública de qualidade a todos, vira as costas à educação e lucra muita grana com a crise que ele mesmo deflagra. Assim, surgem os defensores dos modelos de financiamento privado para Universidades públicas, como é o caso do Ministro Luís Roberto Barroso. A quais interesses responde sua defesa?

Barroso deve ter assistido ao documentário "Torre de Marfim", de Andrew Rossi, o qual trata da mercantilização do ensino superior nos EUA, cujas consequências são catastróficas, visto que essa mercantilização produz um processo de endividamento colossal por parte de estudantes que não conseguem pagar o crédito estudantil. E tal processo tem gerado uma profunda crise educacional e econômica no país (obviamente, não para os "homens de bem" que defendem e investem nas bolsas de valor da mercantilização do ensino "público"). E sabemos: a maior parte dos cursos de graduação dos EUA é de péssima qualidade.

A UERJ, portanto, caro Barroso - leia-se UERJ: professores, estudantes e funcionários -, não entra nessa lógica perversa, pois nosso objetivo - e este deveria ser também o seu, já que se diz professor titular da UERJ, desde 1995, inclusive tendo feito seu doutorado na instituição - é desfazer tal lógica de desmantelo da educação e de desejos de tantas pessoas. Nesse sentido, a luta que travamos agora é contra essa mesma Torre de Marfim que querem erguer não apenas no Rio, não apenas no Brasil, mas em vários lugares do mundo.

O senhor deve lembrar-se desse belíssimo texto da Arendt, deve lembrar-se de suas intervenções públicas em prol dos direitos humanos, sim? Pois bem, caso não se lembre, leia com atenção a reflexão dessa grande pensadora: "A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais que elas mesmas, a aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente."

E ainda: "A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens."

Bonito, não é? Recomendo-lhe a leitura de todo o texto.

Portanto, caro Barroso, nós - professores, alunos e funcionários da UERJ - não iremos nos abandonar, não iremos abandonar a UERJ, pois vir ao mundo, seja ele novo, velho, ou provisório, já é o maior dos abandonos. E estamos muito unidos diante de tal abandono.









































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