 |
Ponte do Galo: foto retirada do google earth |
Por Ernani Chaves
Texto publicado na revista Polichinello
nº 13 ׀ Experiência-Limite
● ISSN: 2178-1230 – 10
Alfredo
sonhava freqüentemente com Belém. Desde Chove
nos campos de Cachoeira que sua fantasia, sua imaginação, seu desejo, estão
fortemente ancorados a sua “viagem” a Belém (CCC, p. 189). Dalcídio Jurandir
escreve “viagem” assim, entre aspas, como que a indicar sua outra significação,
pois não se trata de qualquer viagem, mas da
viagem, aquela que foi sonhada, acalentada, exigida: “Quantas vezes, já com o
frio da febre ou ainda com a febre, não ia chorando se queixar, bater os pés na
cozinha onde sua mãe lava as xícaras do café ou mexe a panela - mamãe, me mande
para Belém. Eu morro aqui, mamãe. Cresço aqui e não estudo. Quero estudar,
quero sair daqui!” (CCC, p. 189).
Belém aparece
assim, de início, aos olhos do menino como o lugar da “vida”, em oposição a
Cachoeira, um lugar de “morte”. “Estudar” parece ser, desse modo, apenas um
pretexto, uma boa razão para ir embora e, provavelmente, tentar esquecer os
fantasmas que marcam a sua infância. Belém se torna a cidade-salvadora,
cidade-redentora, cidade-acolhedora, cidade-mãe, que as narrativas de Bibiano,
o “filósofo”, segundo o Major Alberto, transformavam em “embevecimento” (CCC,
p. 191). Era também a cidade-circo, marcada pelo riso e pela alegria dos
trapezistas e engolidores de fogo.
A
contraposição a Alfredo e seu desejo de ir embora é Eutanázio, preso a Irene e
a Cachoeira, incapaz de viver e sobreviver na cidade grande e, por isso,
retorna sempre a Cachoeira. Eutanázio tem um livro de predileção, que nunca
leu, mas gostaria de comprar. O livro, diz ele, se chama Dores do Mundo e seu autor, jamais mencionado, tem “um nome
complicado” (CCC, p. 22, 23, 205). Ora, sabemos de quem se trata: Dores do Mundo é uma coletânea de
aforismos e pequenos textos de um filósofo de “nome complicado”, Arthur
Schopenhauer, o “filósofo do pessimismo” que, não por acaso, detestava o
barulho, o ruído da grande cidade. Nesta perspectiva, enquanto Eutanázio vai
ficando, cada vez mais enrijecido e impossibilitado de andar, na sua
doença-prisão, no seu gozo infinito no sofrimento, Alfredo sonha, a todo
momento, com sua partida: “Mas Alfredo acorda com aquela cidade cheia de
torres, chaminés, palácios, circos, rodas giratórias que lhe enchem o sonho e o
carocinho. De olhos abertos para o telhado, pensa na sua ida para Belém. Seu
sonho é ir para Belém, estudar” (CCC, p. 86).
Em Ponte do Galo, publicado em 1971, já
encontramos Alfredo ginasiano, estudando em Belém, isto é, realizando, de algum
modo, o sonho infantil de sair de Cachoeira e ir morar na cidade. Entretanto, o
que é interessante observar é o quanto entre a visão do menino e do ginasiano,
já se instala uma ruptura. A cidade-risonha, construída pelos olhos de Bibiano
(CCC, p. 86), cidade-luminosa, iluminada, esta “Paris dos Trópicos”, dá lugar
aos contornos de uma outra cidade, preferencialmente noturna, sombria, chuvosa,
estrategicamente vista a partir do bairro do Telégrafo, cuja delimitação
topográfica, geográfica, já é significativa por si só: de um lado, no oeste, a
Baía, que dá vida e embeleza a cidade; de outro, no leste, as “baixas”, como a
“baixa da Manuel Evaristo”, os alagados, os igapós, como os que cortavam a José
Pio, onde os pés afundam na lama, as pessoas se equilibram sobre pontes e
convivem com o cheiro do estrume das vacarias; no sul, o Igarapé das Almas ( ou
será das Armas?!) e sua ponte que ligava a Avenida Senador Lemos ao bairro do
Reduto e ao norte, emblemática, ligando o Telégrafo a Sacramenta, ela, a Ponte
do Galo. Todos esses lugares são lugares de passagem, de ligação, de transição,
como se não houvesse mais nenhum ponto fixo, nenhum esteio a sustentar uma
sólida cumeeira.
A cidade
adentra na poesia e na literatura como um lugar fundamental, a partir do século
XIX. Com Baudelaire e Rimbaud, Verhaeren e os Expressionistas, apenas para
citar alguns. Antes que Alfred Döblin e John dos Passos, já na primeira metade
do século XX, a tomassem como tema, ela já era vista como “potência de
enfeitiçamento, de maravilhamento, uma espécie de desejo e de violência que
anuncia a mitologia expressionista”, onde a cidade se tornará um misto de
“paisagem de sonho e de angústia que se reencontram sem cessar” .
Talvez
pudéssemos encontrar um denominador comum às diferentes visões da cidade, que a
literatura construiu entre o final do século XIX e as primeiras décadas do
século XX num certo sentimento de “mal-estar”, de um “mal-estar” em meio à
cultura, tal como Freud o chamou em seu texto seminal, publicado em 1930 - Das Unbehagen in der Kultur - um texto
percorrido, de ponta a ponta, por imagens de cidades. E no seu centro, a imagem
da Viena limpa, ordeira, com flores na sacada, mas que para além dos
imperativos do progresso e da ordem, esconde a miséria psíquica: por trás de
cada cortina de veludo espesso, com a qual a burguesia pensava se defender do
anonimato que reinava em meio à multidão da grande cidade, o sofrimento
neurótico. Assim, Freud, como o menino Alfredo, como cada um de nós talvez,
desejou intensamente conhecer e viver em uma outra cidade, quis sair de sua
Viena-Cachoeira, alimentando por um sonho, que o conduzia sempre a esta outra
cidade, a Roma, a cidade-eterna.
Com Freud e a
Psicanálise, a cidade se converte numa configuração onírica e, com isso,
torna-se o oposto da cidade do Barão Hausmann, o prefeito responsável pela
transformação urbanística de Paris, na segunda metade do século XIX. Hausmann
sonhara com uma cidade geométrica, perfeita, “cartesiana”, com suas largas
avenidas, que facilitasse a circulação (mais dos carros que das pessoas!) e,
principalmente, evitasse as revoltas e as manifestações populares. A cidade
anti-Comuna, enfim, onde toda barricada fosse rapidamente vencida. A cidade
freudiana é, portanto, ao contrário da do Barão Hausmann, “labiríntica”. Só que
um labirinto sem o fio de Ariadne, um labirinto do desejo. Da mesma forma
Dalcídio Jurandir, que superpõe à cidade de Antonio Lemos, cujo modelo era
exatamente o prefeito parisiense, uma outra cidade, povoada de fantasmas, um
“subúrbio fantasmal e gotejante, entre os fedores da vacaria, feira de peixe e
bucho e a ruidosa insônia das crianças” (PG, p. 136).
Personificando
o desejo, essa deriva sem meta e sem fim, pois seu objeto está definitivamente
perdido, encontramos as duas netas da parteira, Ana e Nini, descritas numa
espécie de concluio mimético com a cidade. Podemos encontrá-las na esquina da
Manuel Evaristo tomando tacacá (PG, p. 130), atravessando o Largo da
Penitenciária em direção ao campo do Aston Vila Footbal Club (PG, p. 129),
correndo pela Baixa da Manuel Evaristo para, mais adiante, cada uma tomar o seu
rumo (PG, p. 1311). A avó-parteira, zelosa pelas netas, não se cansa de
procurá-las, muitas vezes acompanhada por Alfredo. E assim, ela conjectura o paradeiro das netas, aderindo,
portanto, à mesma deriva, à mesma errância: talvez estejam no igarapé (PG, p.
132), na Sacramenta “fazendo velório” (PG, p. 133), quem sabe “varavam pela
Pedreira” (PG, p. 133) ou “coorriam das cobras do Posto” (PG, p. 133).
As netas, como
a Irene de Chove, são figuras da
sedução, da sexualidade, em especial Ana, que rouba a cena com sua sexualidade
a transbordar na própria pele perfumada ou ainda no vestido de seda e no
sapato. Para D. Dudu, a costureira que hospeda Alfredo, as netas têm uma
“labareda” dentro de si (PG, p. 132). Alfredo corre atrás de Ana, como se
quisesse livrá-la tanto do destino de Irene, quanto o de Luciana, a filha de D.
Dudu, que “caíra na vida”. E nessa corrida contra o destino, Alfredo se
embrenha na cidade, do Igarapé das Almas à Ponte do Galo, da Municipalidade ao
fim da linha do bonde, já próximo ao curtume e aos estaleiros e navios do
porto. Sempre atrás de Ana, que era “insaciável da rua e da noite” (PG, p.
137). É então que, finalmente, Alfredo a encontra e o diálogo deles constitui
esta figuração da cidade como labirinto do desejo:
“- Espionando?
- pergunta Ana a Alfredo - Não tenho como que pagar a tua vigiação, amor dos
outros. Larga o emprego, estudioso.
- Ana, Ana, e
tua irmã?
- Corpo dela
nasceu no meu? Nem de mim sei, que dirá.
Um beiço de
irritação e aposta, o rosto, agora pálido, à luz do poste, num ar de quem
espera sentença. Alfredo não se mexia.
- Mas então me
apanha pela mão, me laça, me bota dentro de casa, costura a minha pele na
parede, me prega com alfinete, me deixa pelada ao pé do fogão. Não és o
domador? Me laça, me toca a vara: `pró chiqueiro, porca!`.
E sorria à
espreita, estendeu a mão, o braço nu, alvo, abandonado, a ilharga ao alcance.
Alfredo pôs-se a rir, a fazer-lhe aceno que entrasse, a girar a mão, como se
fosse laçá-la, entrasse, a porta estava encostada.
- Tua vó te
procura pelo planêto inteiro, mulher.
- Mulher? Com
que intenção `mulher`? Me diz!
- Não és?
- ´Mulher´,
disseste com intenção, sim. Que te importa?
E abanava,
batia as chinelas ´mulher´!, olhava para ele, num resmungo. Mulher...
- Eu só o que
faço é andar pela noite”. (PG, p. 137-8).
Este trecho, uma amostra da maestria do escritor
Dalcídio Jurandir, é extremamente significativo para os meus propósitos. Ana é
aqui a figuração do desejo, repetindo uma figuração já clássica da prostituta:
Ana, como uma mariposa, à luz do poste, desafiando despudoradamente o possível
“domador”. O que diz Ana, o tempo todo, a não ser que não adianta querer
amordaçar o desejo, atá-lo, imobilizá-lo? Pois não é o desejo esta força que
nos arrasta, desafiando, antes de mais nada, a moral e os bons costumes? Ana, a
“porca”, a “suinara” (PG, p. 142), que na sua pouca idade já é suspeita de ser
“mulher”!. Ana, que como uma égua, “corria num galope, desaparecendo para os lados
do curtume” (PG, p. 138). “Porca”, “suinara” e “égua galopando”: designações
possíveis do desejo, para o que rompendo com a hegemonia da consciência e da
unidade do sujeito, assinala para o que há de “animal” em nós. Figuração do
corpo como sede dos afetos e das paixões, como o que resiste a dobrar-se à
direção da alma. Mas também corpo feminino, corpo de mulher, a desafiar as imposições
da cultura que a querem, preferencialmente, como esposa e mãe. Ana, coquete,
sedutora, pedindo, num desafio: “me laça, me toca a vara: ´pro chiqueiro,
porca!´”. E desaparece, galopando, não mais “porca”, “suinara”, não mais
confinada à significação do desejo como sujeira, lama, lodo, como coisa
“porca”, mas agora transmutada em “égua”, galopando, como se fosse alada, nesta
outra significação do desejo como intensidade, vida, conquista do absolutamente
insólito, do novo mais uma vez, como criação infinita, inesgotável, de outras
possibilidades de existência, onde a errância é a condição de possibilidade da
plenitude. As duas faces de Eros, que dominam a nossa cultura desde os gregos
estão aí, juntas, reunidas em Ana
A cidade de
Ana é a rua, é a noite. Mas a rua não é aqui a dos palacetes dos barões da
borracha, “a pacata rua chamada Benjamin Constant” de Eneida de Moraes, nem o
“tranqüilo Umarizal” de de Campos Ribeiro, mas
aquela que se oferece ao pé e à mão de Ana, ao desejo de Ana de percorrer
vielas, de atravessar pontes, de perder-se nas matas do curtume, de misturar-se
ao capim fresco, molhado de orvalho das vacarias, de entrar pelo Uma, correr
pela Volta da Tripa e se acabar lá longe, cansada, arfante, esbaforida, na
Ponte do Galo:
“- Eu só faço
é andar pela noite. Aleja?
- É que a vó
de vocês se esfalta.
- ´tiveste no
orfanato? Que tu sabes de mim?
- Não discuto
isso, Ana. O pé é teu, a noite na tua mão...
- No meu pé,
no meu pé, que a noite está. E olha, não deu a hora de recolher pro chiqueiro,
adeus. Ou vai porfiar comigo ver quem corre mais até o curtume? Brincar de se
esconder por dentro daqueles navios podres? Assustar as visagens deles?” (PG,
p. 138).
Assim é Ana,
sempre assim, desafiadora como o desejo. Sim, a cidade está no seu pé e na sua
mão. A cidade se estende diante dela como cúmplice, escondendo-a nas trevas da
noite, facilitando sua correria, seu galope. Ana e a cidade: duas mulheres numa
só.
E Alfredo? O
possível “domador”? Enquanto Ana vive o presente, Alfredo é obcecado pelas
imagens do passado, por esses fantasmas que retornam à noite, nos sonhos.
Assim, enquanto Ana corre, Alfredo fica ali, quase totalmente imóvel, enquanto
a chuva cai sobre a José Pio. E então, como num sonho, onde fragmentos
dispersos e diversos se reúnem e se sobrepõem, rompendo as costumeiras relações
entre espaço e tempo, Belém é Cachoeira: “Agora na José Pio, chuva, chuva,
naqueles bailes mortos sustentada, a casa trancava-se. Este tempe, em
Cachoeira, é a apanha do tucumã e gogó” (PG, p. 138). A água da chuva
ressuscita todos os fantasmas: Sabá Manjerona, o velho Araguaia, Isabel, Dada,
Celina, Raul. E quanto mais a chuva cai, mais os fantasmas reaparecem: “Seguiu
sob a chuva, não de Belém, chuvas de Cachoeira, as de outrora sobre o chalé,
sobre a casa do seu Cristóvão, sobre Eutanázio andando” (PG, p. 139).
Fragmentos do passado, permeados pela morte, assaltam Alfredo, de forma
impiedosa. Alfredo, que sempre quis sair de Cachoeira, que sempre quis se
libertar de sua própria infância, parece firmemente atado a esta campo
movediço, a essa eterna busca, talvez sabendo que enquanto vai à busca de Ana,
vai é em busca de si mesmo.
Belém
permanece para Alfredo uma imagem onírica, onde a criança e o ginasiano se
encontram. A Belém idílica, sonhada tantas vezes em Cachoeira, não existe. A
morte está em todo lugar. E a insaciável procura também. Não só por Ana, mas
também por outra Ana, a Luciana, filha de D. Dudu, a sua hospedeira, que caíra
na vida. Como se os filhos de Major Alberto, Alfredo e Eutanázio, estivessem
condenados a esta eterna busca por mulheres, por uma mulher, como se nelas e
apenas nelas, fosse possível encontrar a felicidade. É por Luciana também, que
Alfredo bate a cidade. É por ela que a cidade também se oferece a ele e que,
tal como para Ana, se encontra a seus pés:
“Sem encontrar
Luciana, que me enxota desta casa, agüento o Liceu? Toda a cidade aos meus pés.
Entrocamento, Uma, Guamá, mata do Murutucu, ninguém sabendo de Luciana. Fujo.
Deixo no pátio imundo nesta busca, aquela viagem, o barco a partir-se no
quebra-pote debaixo da trovoada - a mãe atravessando a baia, sabia lá que sede
ou poço oculto ou a sua ressurreição, por trazer o filho para a cidade, ´nada
como saber, meu filho´, dizia o olhar dela, toda a verdade é o seu saber; sim
tal qual a folha do lilás. Não era o barco que se partia, era o chalé, partido
pelo mesmo raio que abriu a porta a Luciana” (PG, p. 149-50).
A cidade aos
pés de Alfredo! O que isso pode significar? Em primeiro lugar, uma precisa
delimitação geográfica da Belém na década de vinte do século passado: o
Entroncamento, o Uma, o Guamá, o Murutucu. A cidade inteira e seus limites. Em
segundo lugar, a figura de Teseu-Alfredo em busca de Ariadne-Luciana-Ana, só
que não há nenhum fio a seguir. Da cidade-labirinto, ele só pode saber dos
limites, daquilo que designa o que não piode ser ultrapassado, como se para
além desses limites houvesse o nada, o vazio, o caos absoluto, o não-mundo,
esse espaço enigmático que antecede toda criação. Em terceiro lugar, a memória,
o passado de novo assaltando sem piedade, a lembrança da tão sonhada viagem a
Belém para estudar, com D. Amélia, a mãe, numa travessia difícil em meio ao
temporal e ao quebra-pote das ondas da baía. Difícil travessia essa, alegoria
das travessias na vida do próprio Alfredo.
Este trecho,
exemplar da forma cinematográfica do estilo de
Dalcídio Jurandir nos seus últimos livros, termina com uma indagação
crucial, a mais fundamental de todas, talvez: “A ponte, passo? Por causa da
Luciana, todos culpados, ou toda a culpa deles carrego eu?” (PG, p. 150). Não
por acaso, neste momento Alfredo está passando por uma igreja e escuta o canto
que vem de lá e a morte, mais uma vez, atravessa o caminho deste “andador da
noite, rastreador do subúrbio”:
“O eco das
águas há pouco despejadas pela selva. Barco de náufragos, a igreja cantava. O
canto, ou o coro de adeus e de socorro, despencava as quarenta noites de
Eutanázio no chalé e aquelas de Luciana (...) A busca de Luciana junto à morte
do irmão, visto agora pelo rapaz, por este andador da noite, rastreador de
subúrbio, atrás do pastor, ali na igreja, que prega a esperança, por demais
desprezada” (PG, p. 152).
Mas, ao
contrário do pastor, Dalcídio Jurandir não nos dá nenhuma esperança. Apesar de
“comunista”, sua obra não deixa nenhum espaço para o otimismo baseado na crença
do progresso, que alimentava as esquerdas, desde a 2ª. Internacional. Talvez
porque, tal como seu personagem Eutanázio, o escritor Dalcídio Jurandir tivesse
sempre diante de si uma página das Dores
do Mundo, só que transformando o pessimismo schopenhaureano - como o faz
Max Horkheimer - numa arma crítica contra as fáceis ilusões alienantes da
Modernidade:
“Não há nada
fixo na vida fugitiva, nem dor infinita, nem alegria eterna, nem impressão
permanente, nem entusiasmo duradouro, nem resolução elevada que possa durar
toda a vida! Tudo se dissolve na torrente dos anos. Os minutos, os inumeráveis
átomos de pequenas coisas, fragmentos de cada uma das nossas ações, são os
vermes que devastam tudo quanto é grande e ousado...Nada se toma a sério na
vida humana, o pó não vale esse trabalho”.
Ernani Chaves é professor da Ufpa, autor de No
Limiar do Moderno: um estudo sobre F. Nietzsche e Walter Benjam –
editora Paka-Tatu