Temos constantemente necessidade
de dizer (de pensar): chegou-me aí alguma coisa (de muito importante), o que quer
dizer ao mesmo tempo, isso não saberia ser da ordem do que chega, nem da ordem
do que importa, mas, antes, exporta e deporta. A repetição.
Entre certos « selvagens »
(sociedade sem estado), o chefe deve provar sua dominação sobre as palavras: nenhum silêncio. Ao mesmo tempo, a palavra
do chefe não é dita para ser escutada – ninguém presta atenção à palavra do
chefe, ou antes, finge-se a desatenção;
e o chefe, efetivamente, não diz nada, repetindo como que a celebração das normas
de vida tradicionais. A qual demanda da sociedade primitiva responde essa
palavra vazia que emana do lugar aparente do poder? Vazio, o discurso do chefe o
é justamente porque é separado do poder – é a sociedade ela mesma que é o lugar
do poder. O chefe deve se mover no elemento da palavra, quer dizer, no oposto da
violência. O dever de palavra do chefe, esse fluxo constante de palavra vazia
(não vazia, tradicional, de transmissão) que ele deve à tribo, é a dívida
infinita, a garantia que interdita ao homem de palavra devir homem de poder.
Há questão, e, entretanto, nenhuma dúvida;
há questão, mas nenhum desejo de resposta; há questão, e nada que possa ser dito,
mas somente a dizer. Questionamento, colocação em causa que ultrapassa toda possibilidade de questão.
Aquele que critica ou repele o jogo, já
entrou no jogo.
Como se pode pretender: « O que tu não sabes de maneira alguma, de
maneira alguma saberia te atormentar? » Não sou o centro daquilo que ignoro,
e o tormento tem seu saber próprio que recobre minha ignorância.
O desejo: faça com que tudo seja mais
que tudo e permaneça o tudo.
Escrever pode ter ao menos esse sentido:
usar os erros. Falar os propaga, os dissemina fazendo crer numa verdade.
Ler: não escrever; escrever na
interdição de ler.
Escrever: recusar escrever - escrever
por recusa, de sorte que seja suficiente que se lhe peça algumas palavras para que uma espécie de exclusão se
pronuncie, como se se o obrigasse a sobreviver,
a se prestar à vida para continuar a morrer. Escrever por ausência.
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maravilhoso o texto, nilson!! muito bom mesmo!!! excelente. parabéns!! abração, alberto
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