8/23/2011

Comunidade e desobramento - Maurice Blanchot



COMUNIDADE E DESOBRAMENTO  


Por Maurice Blanchot
Ordenada à morte, a comunidade não é na morte ordenada como à sua obra. Ela não opera a transfiguração de seus mortos em qualquer substância ou qualquer sujeito que seja - pátria, solo natal, nação... falanstério absoluto ou corpo místico...”. Passo algumas frases no entanto essenciais, e chego a esta afirmação que é para mim a mais decisiva: “Se a comunidade é revelada pela morte de outrem, é porque a morte é ela mesma a verdadeira comunidade dos seres mortais: sua comunhão impossível. A comunidade ocupa, portanto, esse lugar singular; ela assume a impossibilidade de sua própria imanência, a impossibilidade de um ser comunitário enquanto sujeito. A comunidade assume e inscreve de alguma maneira a impossibilidade da comunidade... Uma comunidade é a apresentação a seus membros de sua verdade mortal (é o mesmo que dizer que não há comunidade formada de seres imortais...). Ela é a apresentação da finitude e do excesso sem retorno a qual funda o ser finito”.


Há dois traços essenciais neste momento da reflexão: 1) A comunidade não é uma forma restrita da sociedade, não mais do que ela não tende à fusão comunial. 2) À diferença de uma célula social, ela se interdita de fazer obra e não tem por fim nenhum valor de produção. Para que ela serve? Para nada, senão para tornar presente o serviço a outrem até na morte, para que outrem não se perca solitariamente, mas nela se encontre suprido, ao mesmo tempo que traga a um outro esta suplência que lhe é fornecida. A substituição mortal é aquilo que toma o lugar da comunhão. Quando Georges Bataille escreve: “é necessário à vida comum manter-se à altura da morte. A sina de um grande número de vidas privadas é a pequenez. Mas uma comunidade não pode durar senão no nível de intensidade da morte, ela se decompõe desde que ela frustre à grandeza particular do perigo”, pode-se desejar por à parte alguns desses termos  em sua conotação (grandeza, altura), pois a comunidade que não é comunidade de deuses não o é muito menos de heróis, nem de soberanos (como acontece em Sade, em que a busca do gozo excessivo não tem a morte por limite, já que a morte dada ou recebida perfaz o gozo, do mesmo modo que ela cumpre a soberania, fechando sobre ele mesmo o Sujeito que nela se exalta soberanamente).



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