Ney Ferraz Paiva - Durante sua apresentação na XVII Feira Pan-Amazônica do livro │ 2013 |
Ney Ferraz Paiva - Autografando na XVII Feira Pan-Amazônica do livro │ 2013 |
poemas lidos durante a
apresentação de Ney Ferraz Paiva
na XVII Feira Pan-Amazônica
do livro │ 2013
٭
EU QUERIA ESTAR COM VOCÊS HOJE
nº 23 da
fitzroy road
a porta era estreita
negra
nem mesmo você a
pode atravessar
chuva neve
tempestade
o mal residia ali
antigo cão da
família
depois de tudo você
voltaria
rara intuição da
surpresa
desperta de todos os
cansaços
em sua torção de
sereia
٭
tive
um caso com anne sexton
tive um caso com
Anne Sexton
acho que foi o
período da vida
em que ela menos foi triste
talvez mesmo estivesse alegre
experimentasse rir fumar falar
ao mesmo tempo
um esforço do amor
a que se entregou comigo
depois foi preciso escapar
de volta à poesia –
corpo espetacularmente nu
em que ela menos foi triste
talvez mesmo estivesse alegre
experimentasse rir fumar falar
ao mesmo tempo
um esforço do amor
a que se entregou comigo
depois foi preciso escapar
de volta à poesia –
corpo espetacularmente nu
marcado pela vida
barriga & crânio abertos
barriga & crânio abertos
٭
imagens
pesam mais do que o mar
alessandra negrinni como a vi em seus quarenta anos
alessandra negrinni como a vi em seus quarenta anos
ela não ri: move-se
esquiva de um lado a outro
anda a casa como se
fizesse fotos
pés trocados olhar confuso
faz pose pra ele pra o deter de quem?
fisicamente opostos & partidos
o mundo vira de ponta-cabeça
ele a olha com expressão vazia
voz baixa fala devagar
diz ter um problema enorme
precisa urgentemente viajar
ir ao mar ao fogo às nuvens
“ou quem sabe de um bom xampu anticaspa”
sempre diz isso pra fazer as pessoas rirem
ela não ri ele pergunta “por que você não ri?”
desde pequena que não sabe
pés trocados olhar confuso
faz pose pra ele pra o deter de quem?
fisicamente opostos & partidos
o mundo vira de ponta-cabeça
ele a olha com expressão vazia
voz baixa fala devagar
diz ter um problema enorme
precisa urgentemente viajar
ir ao mar ao fogo às nuvens
“ou quem sabe de um bom xampu anticaspa”
sempre diz isso pra fazer as pessoas rirem
ela não ri ele pergunta “por que você não ri?”
desde pequena que não sabe
rir nem dos pequenos
dramas
“ria se alguém está sofrendo
perto de você – por causa de você”
pra ela o inferno é isso
ele nada sabe a respeito
não presta muita atenção
suspensa no ar sem deixar
“ria se alguém está sofrendo
perto de você – por causa de você”
pra ela o inferno é isso
ele nada sabe a respeito
não presta muita atenção
suspensa no ar sem deixar
as coisas como
exatamente são
ela faz outra pose
transfigurada
espera detê-lo
a seu próprio enigma
٭
livro
de que não me livro
a teus pés ana cristina cesar
ainda é o livro dela
passados tantos anos
podem ver a boa
forma
não há nada enrugado
se viro a página
jorra vida
espontaneidade do
instantâneo
de algum lugar ela
retorna
passo alado
estonteante
ainda o ar de
desafio no rosto
irmã de um lado
mulher fatal do outro
reversível inversa à
beira do silêncio
٭
eu queria estar com vocês hoje
ganhei coragem pra
dizer a ela
não gosto de
Cindy Sherman
prefiro Otto
Stupakoff ou Larry Clarck
por
uma razão bem simples
o mundo do homem em
geral
tem menos
constrangimentos
eles se dizem
homens & são
o que anelam
ser
mulheres se põem a
discutir
personagens a
que se mesclam
auto-incluindo
interioridades
dramas cenas de todo
tipo
brutos
disfarces entre nós
eu prefiro Francesca
Woodman
revoluteando o corpo
cada vez
mais depressa
morta na sala:
simples fácil alegre
ela se aproxima faz
cintilar a cena
por danças palavras
em conexão
parece querer estar
comigo hoje
arfa precipita-se
contra a parede
tenta vencer pela
velocidade
a dor
vê-se a câmera mexer
– tensão dos
corpos à
maneira do teatro de Artaud
depois dela nenhuma
mulher pode
dizer “eu sou
fotógrafa”
sem conhecer a bílis
&
os rumores do
gesto
sua espiral muito
louca
sem aspirar ser
cinema
sem soletrar
literatura
٭
poesia
completa – com quem anda o poeta
e deslocamentos doem
D.H. Lawrence
tudo errado desde o
começo
travessia assente em
fragmentos
acasos
fissuras interditos
tempo de embebedar
cavalos
ganhar a vida com
livros
objeto incerto de
design
talvez eu venda
sapatos
respire ciclópicos
rastros
a cara enfiada em
botinas
calçar a palavra não
voltar atrás
ney ferraz paiva
do livro
“arrastar um landau debaixo d’água” │ 2013
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