2/29/2020

Coronavírus II. Debate: Jean-Luc Nancy



ECCEZIONE VIRALE


JEAN-LUC NANCY

Publicado em: « Antinomie » |  27. 02. 2020



Tradução: Davi Pessoa 









Giorgio Agamben, um velho amigo, afirma que o coronavírus pouco difere de uma simples gripe. Esquece que, para a gripe "normal", dispomos de uma vacina de eficácia comprovada. E mesmo esta deve ser readaptada todos os anos às mutações virais. Apesar disso, a gripe "normal" sempre mata várias pessoas e o coronavírus para o qual não existe vacina é capaz de uma mortalidade evidentemente bem mais alta. A diferença (de acordo com fontes do mesmo tipo que aquelas de Agamben) é de aproximadamente de 1 para 30: não me parece uma diferença pouco substancial.

Giorgio afirma que os governos se apropriam de todo tipo de pretexto para instaurar estados contínuos de exceção. Mas ele não percebe que a exceção se torna, na realidade, a regra em um mundo em que as interconexões técnicas de todos os tipos (deslocamentos, transferências de todas as formas, exposições ou difusão de substâncias etc.) alcançam uma intensidade desconhecida até agora e que cresce igualmente com a população. A multiplicação desta também leva nos países ricos a um prolongamento da vida e ao aumento do número de idosos e, em geral, de pessoas em risco.






Não se deve errar o alvo: uma civilização inteira está colocada em questão, não há dúvida sobre isso. Há um tipo de exceção viral - biológica, informática, cultural - que nos pandemiza. Os governos nada mais são do que tristes executores e atacá-los se assemelha mais a uma manobra de desvio que a uma reflexão política.

Lembrei que Giorgio é um velho amigo. Lamento trazer à tona uma lembrança pessoal, mas não me afasto, no fundo, de um registro de reflexão geral. Quase trinta anos atrás, os médicos julgaram que eu tinha que fazer um transplante de coração. Giorgio foi uma das poucas pessoas que me aconselhou a não ouvi-las. Se tivesse seguido seu conselho, provavelmente teria morrido em pouco tempo. Podemos nos enganar. Giorgio continua sendo um espírito de uma fineza e de uma delicadeza que podem ser definidas - sem nenhuma ironia - excepcionais.




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