«LIÇÕES DE CONTINENTE»
Nilson Oliveira
“O poeta não ensina
nada: cria e partilha”
Roberto Juarroz
São linhas subterrâneas aos
radares ou às zonas de captura, facetadas na inconstância entre o escrever e o
pensar. Por vezes alçando os limiares da poesia, por vezes noutras margens, sempre
em movimento de bando, de sete em sete a cada edição, numa revoada dos pequenos
afetos, compondo um bloco assimétrico. É nessa atmosfera plural, entre aberturas
e reaberturas, que essas escritas edificam seus laços, operando numa circularidade
cujo fluxo se expande de forma incessante.
São rasuras, por vezes maquinações,
em devida metamorfose, na esfera do trabalho da escrita, numa relação fugidia, baseada
em um combate através do qual a persistência culmina em travessia, com atenção
aos relevos e desvios, mas também às erosões e fendas no anseio de depreender uma
experiência literária.
Tais linhas são experimentações
com nuances múltiplas, por conseguinte, de um povo que não cessa de vir e
partilhar seus afetos, em reiterado processo de encontros, desencontros e evasão.
Sim, essas são escritas que se movem, delineando pequenas cartografias, com amizade
pelo que excede os limites do interrompido e do ininterrupto. E neste norte, numa
circularidade sem fim, feito animal errante, dobra os extremos de outra terra, no
vislumbre de outra, e de outra: com todo furor, nos laços do imprevisível.
E nessa rotação se alastram, por
vezes no limite da literatura, indissociáveis de uma força através da qual a experiência
do escrever se compraz num regozijo, cujas possibilidades – as mais furtivas – oscilam
entre abertura e devir.
«LIÇÕES DE CONTINENTE» é um
projeto inspirado no «espaço literário» da escritora Maria Lúcia Medeiros (1942-2005),
para quem a escrita opera na cadência de um tempo – veloz e múltiplo – através
do qual delineia uma arte das superfícies, ou seja, uma arte dos deslocamentos na
direção da vida sensível. Ou melhor, das existências mínimas ou dos pequenos
acontecimentos. Acontecimentos esses próprios das cenas mais cotidianas,
esculpidas num “quarto de hora” ou no (quase) imperceptível. Suas narrativas
atravessam a noite, a floresta, tem cheiro de húmus, por vezes de mar. E sem
nenhum receio, num passo-além, avançam
para o mais escuro da noite. É nessa verve que a autora constitui, ao logo das
suas escritas, uma fabulosa experiência literária, que não é senão a do
desassossego de uma escrita que se desloca e não cessa de se deslocar, sempre
numa “linha de fuga”: “este furor que (...) impele paras as índias. Fantástico
navegar (...) neste verão anunciado por luas perfeitas”[1].
É nesse norte que, impulsionado
pelos ventos de Maria Lúcia Medeiros, «Lições de Continente» desata seus voos,
pelo meio de uma agitada zona de trânsitos, encontros e partidas, em uma investida
cujo objetivo é acolher a escrita que vem.
Consistem na publicação de
escritas contemporâneas, em pequenas tiragens, sempre num formato heterogêneos,
a partir de plaquetes e outros objetos. É organizado por Nilson Oliveira em parceria com a Lumme Editor.
E teve na sua primeira edição
(maio de 2021) Izabela Leal (RJ), Rodrigo Briveira (PA), Ramon Cardeal (PA),
Isadora Salazar (PA), Felipe Cruz (PA), Maurício Borba (PA), Maria Lúcia
Medeiros (PA)...
Neste novo lançamento (maio 2022)
Marina Mariasch (Argentina), Roxana Crisólogo Correa (Peru), Camila Do Valle
(MG), Marcílio Caldas Costa (PA), Lígia Dabul (RJ), Edilson Pantoja (PA) Edson
Passetti (SP) com desenhos de Francisco dos Santos
Nenhum comentário:
Postar um comentário