M A U R I C E - B L A N C H O T
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Platão: Pois da morte, ninguém tem saber; e Paul Celan: Ninguém dá testemunho para a testemunha. E, no entanto, sempre, nós escolhemos para nós um companheiro: não para nós, mas para alguma coisa em nós, fora de nós, que tem necessidade de que nós faltemos a nós mesmos para passarmos a linha que não atingiremos. Companheiro de antemão perdido, a perda mesma que está de ora em diante em nosso lugar.
Onde buscar a testemunha para a qual não há testemunha?
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Aquilo que nos fala aqui, nos atinge pela extrema tensão de linguagem, por sua concentração, pela necessidade de manter, de portar uma em direção à outra, numa união que não faz unidade, palavras de ora em diante associadas, juntadas para outra coisa que o seu sentido, somente orientadas em direção a ---.
E aquilo que nos fala, nesses poemas o mais frequentemente muito curtos onde termos, frases parecem, pelo ritmo de sua brevidade indefinida, rodeados de branco, é porque esse branco, essas paradas, esses silêncios não são pausas ou intervalos a permitir a respiração da leitura, mas pertencem ao mesmo rigor, aquele que não autoriza senão pouco relaxamento, um rigor não verbal que não seria destinado a portar sentido, como se o vazio fosse menos uma falta do que uma saturação, um vazio saturado de vazio. E, todavia, talvez não seja lá aquilo que eu retenho de pronto, mas que uma tal linguagem, frequentemente tão dura (como em alguns poemas do último Hölderlin), não dura – alguma coisa de estridente, um som agudo para além daquilo que pode devir canto – não venha por isso jamais produzir uma palavra de violência, não impacte o outro, não seja animada por nenhuma intenção agressiva ou destruidora: como se tivesse já tido lugar a destruição de si para que outrem seja preservado ou para que seja comprovado um signo portado pela obscuridade.
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