8/18/2021

A vontade do comunismo : Duras & Blanchot



 

Marguerite Duras


Maurice Blanchot


Carta de Maurice Blanchot à Marguerite Duras

14 de outubro de 1968

 

 

Querida Marguerite,

Não nos vemos desde julho. Naquela época, quando estávamos nos separando, decidimos publicar o que chamamos de “boletim”*. Tenho pensado nisso desde então. Acho que nunca estivemos tão desamparados e desamparados como somos hoje. Ao mesmo tempo, a vontade do comunismo nunca precisou ser afirmada como é hoje. Quão? Não de uma forma calma e tradicional, mas questionando tudo e mais. De tal modo que nos obriga, a nós, os dependentes dos outros, a fazer a revolução da revolução, a revolução por dentro da revolução. Necessariamente o que quer que façamos é extremamente pequeno, insignificante, invisível. Pode não ter nenhuma importância, mas se quisermos cuidar dessas coisas, para que possamos avançar, é melhor admitir imediatamente ou ter a coragem de admitir que nos juntamos ao outro lado. A vontade do comunismo: estamos prontos, somos capazes? Resposta? Com o poder que temos, com o poder que não temos? A vontade do comunismo nos deixou? Esta é uma pergunta para mim e para você, minha amiga muito próxima.

Maurice

 


Refere-se ao boletim do Comitê de Luta de Estudantes-Escritores, cujo primeiro número foi publicado em outubro de 1968 sob o título “Comitê”. O Comitê foi fundado por Robert e Monique Antelme, Marguerite Duras, Dionys Mascolo, Michel Leiris, Maurice Nadeau, Louis-Rene des Forets, Maurice Blanchot & outros.




 


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